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Ecologia e a Bíblia

Mesmo escrita há milênios, a Bíblia apresenta textos relacionados com a ecologia, como é o caso da poluição de rios e águas. Muitos problemas ambientais de hoje são específicos da sociedade industrializada e urbanizada. A Bíblia, seguramente não poderá, pois, oferecer uma série de detalhes e conhecimentos especializados para resolver problemas do meio ambiente. Pode, no entanto, orientar para que, dentre um leque de opções técnicas divergentes e até opostas, possamos escolher aquelas propostas que melhor correspondem ao caráter das criaturas e da criação em geral como boa obra de Deus.


A Bíblia registra vários relatos sobre a criação. Cada um com seu devido enfoque. Além dos relatos de Gênesis 1 e 2, há relatos de outros lugares nos Salmos, em Isaías, João, Efésios e Colossenses. Em Gênesis 1, por exemplo, o homem se encontra como o ápice da criação, enquanto Gênesis 2 ele é o seu centro. Em ambos, ocupa uma posição de destaque. Qual é, exatamente, a relação entre o ser humano, a criação e Deus na Bíblia? Em primeiro lugar, a criação toda, inclusive a humanidade, encontra seu propósito em dar glória a Deus. Deus expressa a sua soberania sobre a criação através de dois atos: o ato de criar e o ato de designar o lugar (função) e o nome (propósito) de cada elemento. Por exemplo, em Gênesis 1.10, à porção seca chamou Deus “Terra”, e ao ajuntamento das águas, “Mares”. Tal observação sustena a posição dos ecologistas e de boa parte da comunidade científica de que não há elementos fortuitos e dispensáveis no planeta. Por conseqüência, a fim de melhor administrar a criação, a humanidade precisa entender o devido propósito das suas partes. É por isso que, do ponto de vista cristão, existem a pesquisa e a universidade. Porém, a criação não deve ser divinizada. Contra aqueles que acriticamente glorificam a criação, os panteístas funcionais de hoje, afirmamos que ela é distinta de Deus. Não é Deus. Deus a vê (Gn 1.4, 10, 12, 18, 21 e 25) e declara simplesmente “isso é bom”. O “bom” no hebraico denota mais um sentido ético. Inclui também uma conotação estética, a idéia de beleza, adorno e alegria (Jó 38.4-9; Sl 148.3-14). O caráter material e orgânico da criação não é barreira à glória de Deus. Pelo contrário, é um veículo necessário para a expressão de tal glória. O mundo não foi criado apenas por causa do ser humano, mas também porque Deus se alegra nele e cuida de todas as suas criaturas. Toda criatura serve e glorifica a Deus, até mesmo a vida não- humana (Sl 19.1-5; Is 40.22-31). Deus se alegra e cuida da criação “independentemente” da sua importância para osseres humanos (Jó 38.33-41; Sl 104.10ss)! Uma preocupação pelo meio ambiente por causa do bem-estar futuro da humanidade não é a razão suficiente, e sim, aquém da perspectiva bíblica que procura na ecologia não apenas a sobrevivência da humanidade, mas o louvor e a glória devidos a Deus. O mundo pertence “apenas” a Deus. Nenhuma substância material poderá existir independentemente da vontade criativa de Deus. Segundo a Bíblia, o mundo pertence a Deus, não à humanidade quecria os elementos básicos da natureza.
Quando o homem molda o mundo para satisfazer os seus próprios interesses, e não os interesses de Deus para a criação toda (não só o ser humano), então o mundo se deprecia! Em segundo lugar, o ser humano faz parte da criação e é dependente dela. O ser humano vive dentro de um contexto de interdependência com a criação. Desde o início, nossa sorte está ligada ao solo, e por sua vez, a sorte do solo está ligada a nós. Podemos provocar a melhor ou a pior sorte. Embora Deus coloque o homem no Jardim para cultivá-lo (Gn 2.15), ele promete um amplo galardão. Toda planta comestível lhe é dada (1.29-30; 2.16). Aqui reparamos o tema bíblico da abundância da provisão de Deus. Não havia falta (2.8-9). Bastava o homem cultivar e guardar. Nascemos do solo e dele recebemos o nosso sustento. Pertencemos a este mundo (a criação) por completo. O mundo fornece a base da existência humana! A vida começa e se orienta ao interesse de Deus (Sl 104.24, 27-30). Hoje, invertemos isso, pensando que o mundo é “objeto” para nossa exploração, em vez de “sujeito” para a glorificação de Deus. Em grande parte, ignoramos as necessidades de outras formas de vida. Para a cosmovisão bíblica, uma atitude utilitária para com o mundo não-humano seria pagã! Em terceiro lugar, o ser humano, enquanto faz parte da criação e depende dela, também é seu “mordomo”. O ser humano, como o restante da criação, foi criado “conforme a sua espécie” (Gn 1.11, 12, 21, 24, 25), só que à imagem e semelhança de Deus (1.26-27). A imagem de Deus é elaborada em termos do “domínio” que o homem teria sobre o resto da criação. O homem foi criado à imagem de Deus, não pelo que o homem é intrinsicamente, mas pela postura que assume diante da criação, uma postura de soberania (com “s” minúsculo) amorosa e cuidadosa, refletindo a Soberania (“s” maiúsculo) de Deus (1.26-28). O homem não foi criado apenas para administrar os deuses – uma administração “espiritual”, como nas várias mitologias antigas – mas foi criado para civilizar ou ordenar a criação - uma administração “mundana” (Sl 8.5-6). Em teologia, há uma referência a essa administração humana sobre a criação como um mandato cultural. Ser criado à imagem de Deus é ser responsável com a terra e toda a sua forma de vida! A soberania humana implica em “responsabilidade” para preservar a ordem que Deus criou e promover a existência de todos os seus elementos. Tal soberania não implica em liberdade autônoma e autocrática para dispor dos recursos do mundo para finalidades auto-determinadas. Os seres humanos são mordomos de Deus, responsáveis a ele e cuja primeira tarefa é assegurar a permanência e equilíbrio da criação. Não somos regentes independentes .

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